Haverá uma observação especial à partida do 54º Grande Prémio de Motos de Macau. Uma, para mulheres, pois pela primeira vez na história encontraremos uma mulher devidamente inscrita, convidada (prerrogativa do evento) pela Comissão Organizadora. Nadieh Schoots, motociclista holandesa de 31 anos, vai estrear-se no Circuito da Guia juntamente com mais 10 recém-chegado, escrevendo uma página memorável na história do motociclismo em rosa. Nunca, desde 1967, uma mulher teve a oportunidade de assistir ao Grande Prêmio reservado aos veículos motorizados de duas rodas da “Las Vegas dell’Asia“. Com uma Kawasaki ZX-10R distinguida pelo número 69 e inscrita pela Rebel Racing, Nadieh alcançará este marco prestigioso e icónico.
NADIEH SCHOOTS NELLA STORIA
Nascida em 1991 em Zuidland, Nadieh Schoots aceitou de bom grado passar 7 dias de quarentena anti-COVID-19 em um hotel mais 3 dias adicionais de autovigilância de saúde para realizar esse sonho dela. Tornar-se a primeira mulher regularmente admitida à largada do Grande Prémio de Motos de Macau representa um marco não só na sua carreira, mas em todo o movimento do motociclismo cor-de-rosa. Fruto de condições certamente favoráveis (pequeno número de sócios, poucos pilotos dispostos a enfrentar esta exigente viagem este ano), mas se Nadieh for a primeira a fazê-lo, haverá ainda uma razão subjacente. Em primeiro lugar, seu currículo, com experiência competitiva em quase todos os lugares. Considerando que Macau é entendido como um corrida de rua para todos os efeitos, Schoots já correu nos eventos North West 200 (incluindo Superbike), Horice e IRRC. A isto juntou provas de Endurance, na América e no Reino Unido.
NA ESTREIA COM KAWASAKI
Em suma, tudo, menos colocado em perigo. Para esta estreia histórica, Nadieh Schoots competirá com a #69 Rebel Racing Kawasaki ZX-10R. Além disso, a equipe é composta em grande parte por rostos femininos. Uma expedição que atraiu a atenção de muitos meios de comunicação e dos próprios organizadores, que propuseram Nadieh “na cobertura“. É um dos temas de interesse dos Grandes Prêmios de motocicletas.
TUDO COMEÇOU COM MARIA FERNANDA ‘SPEEDY’ RIBEIRO
Nadieh Schoots traz o automobilismo feminino de volta aos noticiários em Macau. Uma prerrogativa do evento, basta pensar que na primeira edição de 1954 (as motos chegarão apenas em 1967) Maria Fernanda de Menezes Ribeiro compareceu. Originalmente da ex-colônia portuguesa, “Veloz” concluiu em segundo lugar no Teste de Regularidade de Velocidade com um Vauxhall Velox, corrida em que os pilotos largam um de cada vez por ordem de cilindrada. O vencedor foi determinado pelo piloto com mais voltas completadas em 4 horas. Dois anos depois, em 1956, ganhou o corrida feminina reservado a mulheres (com apenas 3 membros) ao volante de um Fiat 1100. Tornar-se de uma só vez a primeira mulher a correr e vencer o GP de Macau. Reza também a lenda que já com 12 anos Maria Fernanda andava secretamente com o carro do pai em Macau, parado num dos seus “escapadapela polícia local. Não menos importante, na sua corrida de estreia em Macau, o seu marido Fernando gritava a cada volta: “Vá devagar, pense nas crianças“. A Maria Fernanda de facto já foi mãe…
A ‘RAINHA DA VELOCIDADE’ ANNE WONG
Igualmente interessante é a história de Anne Wong Holloway, grande protagonista da edição de 1970, vencendo a corrida pelos carros de produção ao volante de um Mini Cooper. Com apenas 21 anos, ela se estabeleceu como a primeira mulher a vencer uma corrida não dedicada em Macau. Sua façanha foi relatada via telex da agência de notícias Associated Press de 29 de novembro de 1970 e até mesmo retomada pelo New York Times. A denominação que lhe é atribuída de “Rainha da VelocidadeEntão não foi por acaso…
DIANA POON A PRIMEIRA MULHER COM UM LUGAR
Isto leva-nos a 1976 na história do automobilismo cor-de-rosa em Macau, com Diana Poon a ser a primeira mulher a correr num monolugar no circuito da Guia. Originária de Hong Kong, ela correu durante anos na Fórmula Pacífico, impulsionada por seu marido Albert Poon. Nesta circunstância correu com o Ford Brabham BT40, vendo-se forçado a desistir numa corrida vencida pelo futuro Campeão do Mundo de Fórmula 1, Alan Jones.
O INCIDENTE DE SOPHIA FLORSCH DE 2018
No Grande Prémio de Macau, Desiré Wilson (6º em 1980), Cathy Muller (12ª em 1983) e Tatiana Calderon (13ª em 2014) alternaram-se na largada. Até a famosa participação de Sophia Flörsch. Em 2018, com apenas 18 anos, sofreu um dramático acidente durante o GP de Fórmula 3, com seu monolugar levantado a 3 metros do solo. Batida na Curva do Hotel Lisboa a 276 km/h. Ele sofreu uma fratura na vértebra e, após uma cirurgia de 11 horas, conseguiu se recuperar, tanto que repetiu a experiência em 2019. Posteriormente, disputou o DTM e as 24 Horas de Le Mans.
AGORA É A VEZ DA NADIEH
Cabe, portanto, a Nadieh Schoots dar continuidade a esta longa tradição do desporto motorizado feminino em Macau. Ainda antes do início das provas, já na história como o primeiro motociclista a correr quase 300 horas, roçando as paredes, os arranha-céus, as barreiras Armco do Circuito da Guia…