A questão surge espontaneamente. Como é possível que, nas últimas três edições, as 8 Horas de Suzuka tenham esperado tanto pela publicação da classificação final? Resumindo: de fato já é uma tradição consolidada na área. As verificações técnicas, por definição, fazem parte do evento, mas não é comum termos que esperar sempre dias (não horas, mas dias!) foi desclassificado. Pela integridade da própria corrida, só há pontos positivos. Pelo timing, certamente não é um aspecto a favor. No entanto, há uma explicação para isso, inerente ao mesmo “corrida das corridas“.
TRÊS EDIÇÕES DA SUZUKA 8 HORAS DISCUTIDAS
Cumprido nestes casos o mais clássico”Resumo dos episódios anteriores“. Em 2019, como consequência da final caótica com a vitória retirada e depois regressada à Kawasaki KRT (Jonathan Rea caiu na última volta, recordem-se), as verificações terminaram às 16h17 do dia seguinte (aqui podem encontrar a história de quanto aconteceu). Piorou no ano passado, com até 12 dias de espera para saber vencedores e vencidos, com necessidade de ter de recorrer à intervenção dos gabinetes competentes da FIM para algumas discrepâncias de peças presentes ou não na ficha de homologação (a história com algumas antecedentes neste artigo).
A DESQUALIFICAÇÃO DA TOHO RACING
Este ano, felizmente para quem está por dentro, a espera durou “apenas” 48 horas. Às 20h00 locais de terça-feira, 8 de agosto (a corrida terminou às 19h30 de domingo…) foi oficializada a desclassificação da segunda classificada Honda CBR 1000RR-R #104 da TOHO Racing. Com reclamação anexa (rejeitada) da equipe, resultando em nota da equipe aceitando a decisão. Pedindo desculpas aos pilotos, patrocinadores e apoiadores por esta prata nas 8 horas de Suzuka desapareceu no “Depois“. Aparentemente devido a um descuido trivial, considerando que a TOHO Racing foi uma das poucas equipes japonesas a adotar o sistema único de reabastecimento STAUBLI, imposto este ano a todas as equipes do World Endurance, mas “opcional” para Suzuki. Cálculos errados levaram a uma cisterna pouco superior aos 24 litros previstos pelo regulamento em vigor (em todo o caso diz-se inferior a 1 litro), com a consequente inevitável desclassificação.
VERIFICAÇÕES TÉCNICAS ESCRUPOLAS EM SUZUKA
Para a integridade da própria corrida, é bom que existam verificações técnicas tão escrupulosas. Pode-se dizer, até mesmo maníaco. Ao contrário de outras realidades, no FIM EWC e, em particular, nas 8 Horas de Suzuka, as verificações técnicas são realizadas como manda Deus (o regulamento). Tendo em conta que a área onde se realizam está interditada, os testemunhos dos diretamente envolvidos constituem a única fonte sobre o assunto. Muitas vezes e (para eles) com relutância, no final das verificações os responsáveis técnicos das equipas saem exaustos. Resumindo, mais uma prova de Endurance para eles enfrentarem, quando noutros contextos as verificações não são de “um tapinha nas costas e pronto“, estamos perto.
O PROCEDIMENTO
Especificamente, as verificações técnicas das 8 Horas de Suzuka 2023 duraram horas e horas. As três primeiras equipas (HRC, TOHO, SDG HARC-PRO) tiveram a sua Honda CBR 1000RR-R escrupulosamente verificada. Os motores, atentos ao ocorrido em 2022, foram literalmente desmontados, verificando-se a regularidade dos cilindros, cabeçote, injetores, virabrequim, bielas, válvulas, corpo borboleta, etc. Um procedimento que durou horas com uma comparação direta com a ficha de homologação e com o que prevê o regulamento técnico, estendendo-se claramente estas verificações a todas as outras partes (tanque, aliás) da moto. Além disso, quando a equipe TOHO esteve perto da desclassificação durante as verificações, a equipe FCC TSR Honda (originalmente quarta classificada) também teve que passar pelo mesmo tratamento para garantir a terceira posição final.
TRÊS DESQUALIFICAÇÕES PARA TANQUE NÃO CONFORME
Do ponto de vista da integridade esportiva, isso é bom. Por outro lado, as verificações de tanques geraram desqualificações ilustres nos últimos anos do Campeonato Mundial de Endurance. No Bol d’Or 2019, a equipe ERC Endurance (na época com a BMW) perdeu o terceiro lugar devido a um tanque não conforme. Enquanto nas 24 Horas de Le Mans 2021 a Bolliger Team, pelo mesmo motivo, foi desclassificada após um prodigioso quarto lugar na corrida. Sinal de que, no CEE da FIM, não faltam controlos, mesmo à custa de dias de espera pela definição da classificação final.