No Campeonato do Mundo de Superbike a eletrónica é gratuita, não há sequer o constrangimento da central única (Magneti Marelli) imposto no MotoGP desde 2016. As únicas limitações dizem respeito ao preço imposto a alguns componentes, incluindo a cablagem, mas são medidas que todas as marcas conseguem contornar sem dificuldade. Então, de fato, há liberdade absoluta: ECU grátis e software sem quaisquer limitações. Fica fácil entender como esse setor é extremamente estratégico. Você precisa de cavalos, bom ciclismo e todo o resto, é claro. Mas sem o gerenciamento perfeito dos controles eletrônicos que permitem que os pneus Pirelli sejam gerenciados da melhor maneira possível, todo o pacote entra em crise. A eletrônica é tão importante que nos últimos meses houve uma verdadeira caça aos melhores especialistas. Com uma estreita troca de “cérebros” entre Yamaha e Kawasaki.
Jonathan Rea tem um novo engenheiro de dados
O pavio foi aceso pela Kawasaki que a meio do último mundial começou a cortejar Christophe Lambert, a eletrónica de Toprak Razgatlioglu. A oferta foi tão substancial que convenceu o técnico a trocar de camisa. A Yamaha aparou o golpe realizando a operação inversa, ou seja, arrebatando Davide Gentile, ex-engenheiro de dados de Jonathan Rea, da Kawasaki. Para o técnico de Trieste, a Yamaha está de regresso, visto que já lá joga há várias épocas. No mágico 2009 esteve ao lado de Ben Spies, o dominador daquela edição e o primeiro piloto da Yamaha a vencer o campeonato mundial derivado da série, logo à primeira tentativa. Gentile já mudou de casa, (tomando serviço na Yamaha nos testes da semana passada em Jerez.
O que é jardinagem?
Já Christoper Lambert, para vestir a camisola da KRT (Kawasaki Racing Team), terá de esperar pelos próximos testes no final de Janeiro, novamente em Jerez. De fato, seu acordo com a Yamaha incluía uma cláusula de “jardinagem”, um conceito pouco conhecido no campo das motocicletas, mas muito em voga nos carros, especialmente na F1. Este é um tempo de inatividade que os engenheiros devem cumprir ao trocar de marca, para que não possam transferir imediatamente segredos técnicos para a concorrência. Na F1, a jardinagem geralmente dura pelo menos seis meses, mas a duração varia de acordo com a importância do técnico e a delicadeza das informações disponíveis no setor de competência. Pela mesma razão, a KRT não fornece detalhes, mas confirma que “Mudanças são esperadas em nosso setor de gerenciamento de dados.”
Por que existe liberdade máxima no campo eletrônico?
A importância cada vez maior da eletrônica se deve aos regulamentos de Superbike extremamente conservadores desta época. Na impossibilidade de intervir em larga escala no motor e no chassi, pois os componentes devem permanecer quase todos padronizados, para andar rápido durante toda a corrida sem queimar os pneus é fundamental ter controles eletrônicos cada vez mais aperfeiçoados. É meio contraditório, porque essa “guerra eletrônica” custa milhões. Mas os regulamentos da Superbike não são projetados para manter os custos sob controle, mas para se adaptar aos desejos dos fabricantes participantes. Isso explica a diferença de segundos (por volta) entre os pilotos oficial e satélite: pouco importa ter uma moto idêntica se você não tiver acesso a informações sobre configurações de software e especialistas que saibam calibrá-las.
Il ditado BMW
Em particular, é a BMW que não quer ouvir falar em limitar a eletrônica, talvez com a adoção de uma única unidade de controle e software privado para várias funções, estilo British Superbike, por assim dizer. A BMW usa uma unidade de controle da Bosch com software proprietário, ao contrário de todos os seus concorrentes que possuem sistemas Magneti Marelli, mas em grande parte “personalizados”, ou seja, meticulosamente adaptados ao veículo específico. É por isso que o mercado de técnicos de ponta está esquentando.
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