“Uma imagem que vale mais que mil palavras”. Um ditado que personifica perfeitamente a foto da capa deste artigo. Voltemos ao último dia 7 de abril em Misano: nos momentos seguintes à bandeira quadriculada da Corrida 2 do CIV Supersport, Davide Stirpe comemorou o seu segundo pódio pessoal do fim de semana, “mimos” seu #63. Um pequeno gesto de compreensão, mas também “do perdão”. Como numa reconciliação apaixonada. Na verdade, aquele camisa 63 viu o fiel cavaleiro com quem compartilhou a alegria do tricolor SSP perder em duas ocasiões distintas (2017 e 2021). Devido a uma série de circunstâncias, o romano esteve a um passo de pendurar o capacete. Depois de superar uma problemática dos últimos dois anos, o #63 redescobriu o carisma do seu destemido piloto. Com uma linhagem simplesmente regenerada pelos cuidados da Garage 51 Racing Team de Barni Ducati e… Michele Pirro!
A confusão de Davide Stirpe
É estranho dizer para um duplo campeão CIV SSP com 13 vitórias e cerca de vinte pódios em seu currículo. Entre os pilotos ativos mais prolíficos da série, a carreira competitiva de Davide Stirpe parecia tristemente direcionada para “Avenida do pôr do sol”. Em 2022, logo após o segundo título conquistado com o F3 675, a equipe Extreme Racing Service o designou obedientemente como a ponta de lança do novo F3 800 RR. “Próxima geração”. Um projeto infelizmente naufragado devido a diversas vicissitudes. Talvez por um pacote que era muito imaturo na época (nada a ver com as apresentações de hoje…). Talvez pela falta de estímulos para o encerramento de um ciclo com a estrutura de referência MV Agusta no culminar de profusos sete anos de colaboração. O fato é que no ano seguinte tomou a decisão de virar a página para estrear com a Ducati Panigale V2 da equipe Mesaroli Racing. Simplificando, uma aventura que terminou enquanto a temporada ainda estava em andamento.
Não é momento
E “momento” também certificado por um infeliz episódio ocorrido em julho de 2023. Por ocasião da etapa de Imola do Mundial de Supersport, a equipe D34G Racing Ducati de Davide Giugliano “bloquear” com pressa para substituir Oliver Bayliss, declarado inapto após o TL1 na manhã de sexta-feira. Dando vida a uma autêntica corrida contra o tempo entre consultas médicas, briefings, documentos e licenças diversas. Em sentido figurado, talvez, muito apoiado. Numa cena que quase lembra Fantozzi, Davide Stirpe escorregou… no meio do paddock! Exatamente, assim mesmo. Enquanto ele andava de scooter na tentativa de resolver os últimos detalhes burocráticos antes do início do TL2 marcado para a tarde. Resultado? Fratura do primeiro metacarpo da mão esquerda e muitas saudações ao acaso mundial. Resumindo: o azar é cego, mas no caso dele ele viu muito bem…
Da possível despedida à proposta de Michele Pirro
Sem futuro e sem moto, chegou a pensar em desistir. Conforme admitido na CorsedimotoTV em março passado. Ele teve que pensar sobre isso “certo” Michele Pirro muda de ideia com um projeto de última hora. O multicampeão italiano procurava uma figura experiente que pudesse levar ao topo do CIV Supersport “dele” Garage 51 Racing Team e, ao mesmo tempo, atuando como treinador de jovens promessas da equipe como Diego Palladino, Nicholas Fruscione e o novato australiano Seth Crump. É verdade: para ter esperança de relançar a carreira, Davide Stirpe não teve outra escolha. Mas foi uma decisão ponderada. Clarividente, muito provavelmente, com um objectivo: a recuperação, o sorriso e o prazer de correr. Com os motores desligados, alguns duvidaram se e quanto ele ainda tinha para dar. Na primeira oportunidade, porém, ele não estava despreparado.
O retorno ao pódio
Apesar dos poucos testes de pré-temporada, Davide Stirpe conseguiu costurar para si a novíssima Panigale V2: rápida desde os testes e protagonista de ambas as corridas na primeira etapa de 2024 em Misano. A primeira linha da qualificação foi seguida por dois pódios, quebrando assim uma longa seca de dois anos. Segundo na Corrida 1 derrotado por Luca Ottaviani (ironicamente: pilotando seu “velho” F3 800 RR) por apenas 110 milésimos. Terceiro na Corrida 2, gerindo de forma inteligente o elevado desgaste dos novos pneus Dunlop. Tudo isso sob o olhar de Michele Pirro, espectadora interessada que observou e apoiou o “dele” piloto dos monitores de serviço na sala de imprensa no final dos respectivos compromissos na CIV Superbike.
Aposta (quase) vencedora
A de Stirpe, nunca tão elevada desde a temporada do segundo título, pode ser resumida numa história perfeita de “redenção”. Para materializar esse renascimento esportivo falta mais do que a vitória em campo. No papel, pode ser alcançado dentro de um mês no circuito doméstico de Vallelunga, onde no passado muitas vezes criou faíscas. Um evento com múltiplos objetivos. Considerando a ausência forçada de Andrea Mantovani devido à coincidência com o Mundial de MotoE, ele também terá como objetivo assumir a liderança do campeonato. Poucos teriam apostado no seu regresso a estes níveis, provavelmente apenas isso “visionário” por Michele Pirro. A pista e o cronômetro provaram que ele estava certo. Uma boa aposta, mas também um presente de boas-vindas porque todos estão a comemorar. O motociclismo italiano por ter visto o ressurgimento de um piloto com ainda muita classe de sobra. #63 por ter encontrado o verdadeiro Davide Stirpe…
Crédito da foto: Cristopher Ponso