Há muita emoção no paddock da MotoGP. Acabou-se o tempo das vacas gordas, ou seja, quando o fenômeno planetário Valentino Rossi bastava por si só para sustentar o público no circuito e nas audiências da TV. A lesão de Marc Márquez, o domínio técnico da Ducati e o progressivo afastamento dos gigantes nipónicos são pesadas hipotecas sobre o mais importante campeonato mundial de motociclismo. Não é só a Suzuki que bateu a porta, é também preocupante que a Yamaha tenha ficado com apenas dois pilotos e tenha perdido um Campeonato do Mundo que já tinha em mãos no verão sem uma reação apreciável. Sem falar na Honda: afundada pelos problemas físicos de Márquez, acabou na última posição do grupo. A HRC domina a F1 fornecendo o motor híbrido para a Red Bull, enquanto na MotoGP ela se rebaixa para montar um braço oscilante projetado e construído por Kalex, um artesão alemão. Tem algo que não está certo…
Dorna está no índice
O mal-estar está se espalhando em muitas direções. Hoje a Gazzetta dello Sport, revista que historicamente não tem se inclinado a levantar casos espinhosos e questões em motocicletas, publica uma página inteira sobre os dados decrescentes tanto da audiência do circuito em nível global quanto da audiência da TV no TV por assinatura italiana SKY. Se até a Rosea se mexer, significa que o ambiente agora está fervendo seriamente. A unanimidade que reinou no paddock por décadas está vacilando: as decisões de Carmelo Ezpeleta, no comando desde 1992, não são mais incontestáveis. Paolo Ianieri, correspondente da Gazzetta, aponta o dedo diretamente para o nepotismo que está se tornando cada vez mais prevalente na Dorna. O patrão está se cercando de familiares em pontos-chave: filhos, netos, companheiros dos filhos. Muito pelo contrário da F1 que está nas mãos da Liberty, que é a Warner Bros, a gigante americana do entretenimento completo. Os dados dos carros estão em alta, nos circuitos e na TV, enquanto o MotoGP gira em torno de si mesmo.
As contas não batem
Em 1922, apenas quatro eventos de MotoGP viram multidões crescerem no circuito: França, Alemanha, Argentina e Portugal. Ao todo, desde 2019, último ano pré-pandemia, o MotoGP perdeu 300 mil espectadores: 2,9 milhões contra 2,6. As quedas mais drásticas foram registradas na Itália e na Espanha, epicentro da paixão. Mugello perdeu mais de metade das assistências face a 2019 (74.078 este ano contra 139.329 há três anos), Misano não esteve bem: 101.140 contra 158.300 (novamente nas três jornadas) em 2019. A fantástica temporada da Ducati e o triunfo de Pecco Bagnaia deixaram pequeno sinal. Talvez os altos preços tenham um impacto: em França, três dias no relvado custam 88€ contra 150 em Mugello e 168 em Misano. F1 em Monza e Imola, com passagens bem mais caras, mas voa…
A TV também chora
A quebra de audiências televisivas é ainda mais preocupante, porque o “sistema MotoGP” assenta em grande medida nas receitas provenientes dos direitos televisivos. La Gazzetta informa os dados da SKY, a TV paga italiana: a média por evento caiu para 1,6 milhão, -25% em relação ao ano passado. F1, na mesma emissora, a audiência média do GP é de 3,2 milhões, +29%. Em 2020 foi quase paridade: 2,4 para carros, 2,1 para motos.
Corrida de Esperança
A Dorna introduziu a corrida de sprint aos sábados à tarde em todos os GPs do próximo Campeonato do Mundo na esperança de trazer os índices televisivos de volta ao topo e aumentar a atratividade do público real. Na F1, o processo foi implementado gradualmente, com três corridas de velocidade em 21-22 para entender o impacto. A nova fórmula é popular e, segundo a Liberty Media, garantiu um aumento de audiência de +8%. A MotoGP caiu forte, lançando de uma só vez essa revolução radical do formato, atraindo muitas críticas de equipes e pilotos. Ir com tanta pressa significa que a situação é grave e a Dorna não tem mais tempo a perder.
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Foto: MotoGP.com