A câmera on-board montada na Aprilia RS-GP de Aleix Espargaró durante a Sprint Race do GP das Américas de MotoGP mostrou um detalhe curioso. Você pode vê-lo destacado pelo círculo amarelo no lado direito do perfil de carbono logo atrás do garfo. Lembramos que lá embaixo não há tanque de combustível, como nas motos de estrada: nas motos de MotoGP ele fica bem mais atrás, praticamente embaixo do banco do piloto, mais próximo do centro de gravidade do veículo. O que é esse tubinho com a tampa e um cabo ligado na parte de cima e para que serve?
Circuito de água pressurizada
Poderia (o condicional é obrigatório…) ser o respiradouro de segurança do circuito de água de arrefecimento do motor V4, que portanto deveria funcionar”sob pressão“. É uma solução que se adota na fase de projeto de motores de altíssima performance, pois possui diversas vantagens. A primeira é que, aumentando a pressão no circuito, a água ferve não aos habituais 100°C, mas a 107-108°C. A ventilação de segurança é necessária em caso de superaquecimento além deste limite, ou talvez em caso de emergência causada por acidentes. É provável que os pilotos da Aprilia sejam instruídos na utilização deste dispositivo, daí a presença do cabo.
Para que serve o resfriamento pressurizado?
O aumento da temperatura permite que o motor trabalhe em condições mais extremas, aumentando a eficiência termodinâmica e, portanto, a potência fornecida. Além disso, ainda com água pressurizada, aumenta-se a eficiência do aparelho de refrigeração, podendo-se projetar radiadores de menores dimensões, com a vantagem ainda de poder otimizar o posicionamento na fase de projeto das dimensões gerais dos detalhes do veículo.
Tentativas de Superbike na década de 2010
O circuito de resfriamento de água pressurizada não é novidade. Na Superbike, por exemplo, a Aprilia e a Ducati trabalharam muito nela nos anos entre 2010 e 2015, quando havia maior liberdade de preparação do que hoje. Nos derivados de série, a contraindicação para o uso desse sistema era que o fluxo de ar tão quente vindo dos radiadores poderia atrapalhar os pilotos, arriscando queimaduras e dificultando a pilotagem. Ambos os fabricantes italianos tentaram remediar isso começando a estudar oduto interno, ou seja, o fluxo de ar que circula no interior do veículo. Mesmo assim, a Aprilia e a Ducati estavam muito à frente em experimentos com equipamentos derivados de carros e filosofias de design. A atual vantagem técnica na MotoGP não surgiu por acaso, mas tem suas raízes naquela época.
A Aprilia está muito à frente, por isso
O problema dos fluxos de ar quente na RS-GP foi resolvido na raiz, pois a moto foi projetada para que existam dois fluxos de ar distintos: um fora do veículo, regulado pelo formato da carenagem e vários apêndices aerodinâmicos, o outro interno. O ar muito quente que sai dos radiadores fica dentro da moto e sai pela traseira, sem criar problemas para os pilotos. A Aprilia é uma MotoGP muito “fechada”, ou seja, os fluxos internos não interferem nos externos. O mesmo conceito que inspira o design dos carros de F1.
Qual é o ganho?
A Aprilia está se baseando fortemente na tecnologia da F1, tanto em termos de design e gerenciamento do motor quanto em aerodinâmica. Ser capaz de manter a água de resfriamento a 108 °C (em vez de 90-100 °C) garante um ganho de potência. Quão difícil de adivinhar, mas provavelmente na ordem de 3-4 cavalos de potência. Parece pouco, mas num MotoGP sofisticado como o de hoje, são detalhes desse tipo que podem fazer uma grande diferença.
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