O desejo expresso publicamente por Francesco Bagnaia de um dia disputar as 8 Horas de Suzuka com a Ducati despertou a mídia, os Ducatistas e os entusiastas do motociclismo. De certa forma, num período de total inatividade das competições, essa esperança tornou-se rapidamente o tema, a notícia dos últimos dias. Tivemos a oportunidade de investigar quais são os “prós” deste futuro desafio Pecco Bagnaia com o Rosa no mítico circuito de montanha-russa. Nesta circunstância, iremos devidamente lidar também com as contra-indicações geradas por um compromisso desta magnitude.
1 – INTENSA TEMPORADA DE MOTOGP PARA PECCO BAGNAIA
Partamos desde já de uma premissa: este desejo não se concretizará em 2023. No próximo ano as 8 horas vão coincidir com a ronda de MotoGP em Silverstone a 6 de agosto, cortando pela raiz este hipotético projeto. Se assim for, voltaremos a falar sobre isso para 2024. Embora o calendário de primeira classe não seja favorável. Com 21 compromissos agendados para um total de 42 corridas (há ainda a introdução do corrida de velocidade…), definir “intensa” a temporada de MotoGP é um eufemismo. Adicionar uma expedição a Suzuka a essa agenda lotada significaria um ano sem fôlego. Enfrentar as 8 horas exige uma semana de atividade no Japão (entramos na pista a partir de terça-feira) e, potencialmente, a disputa de pelo menos uma sessão de testes pré-evento. Verdade: nos últimos anos o MotoGP garantiu um mês de julho livre de compromissos. A única oportunidade para os pilotos de topo recuperarem o fôlego, como atesta o facto de, desde 2018, não haver donos de MotoGP a competir nas 8 horas. O mais recente em ordem cronológica Takaaki Nakagami (2018), antecipado por Jack Miller (2017), Pol Espargaró (2015 e 2016) e Bradley Smith (2015).
2 – PROBLEMAS ORGANIZACIONAIS
Compromissos à parte, as 8 Horas de Suzuka para a Ducati em si envolveriam problemas organizacionais significativos. Se não é um problema para os gigantes japoneses, como eles conseguiriam se organizar lá? Rosa? Um mês cheio de testes e fins de semana de corrida a serem passados no Japão, ao mesmo tempo organizando várias sessões de teste (em junho) com pessoal dedicado e assim por diante. Na verdade, seria necessária uma estrutura expressamente dedicada a esta expedição.
3 – ESTRUTURA
Nesse sentido, quem se encarregaria de tal projeto? A equipa ERC das 8 Horas de Sepang 2019 representa a Ducati no Campeonato do Mundo de Endurance, mas por várias razões não chega a ser considerada uma super-equipa equipada para lançar o assalto às 8 horas. Com o objetivo de vencer e não apenas estar presente, a única solução é a participação Fábrica a todos os efeitos. Como mencionado, os gigantes japoneses têm estruturas dedicadas (Honda in primis, conforme explicado neste artigo), a Ducati deve pagar esse preço. Uma solução seria refazer o caminho da Kawasaki, que está envolvida com a Provec Racing desde 2019 (não mais com a extinta Team Green), mas com a adição de mecânicos, técnicos e engenheiros da KHI. Seria conveniente para a Ducati contar com uma estrutura japonesa já existente. O problema: qual?
4 – DESAFIO NO ESCURO PARA PECCO BAGNAIA E A DUCATI
Para Pecco Bagnaia as 8 Horas de Suzuka seriam um desafio no escuro sem referências anteriores, mas também e sobretudo para a própria Ducati. A última participação oficial data de 31 anos atrás e o Endurance sempre foi, nos últimos tempos, uma espécie de objeto misterioso em Borgo Panigale. Lidar com aqueles que rodam em Suzuka a cada duas semanas (ver Honda) sem nenhum progresso seria um desafio dentro do desafio. Talvez, justamente por isso, ainda mais bonito de vencer.
5 – CUSTOS ÀS ESTRELAS
Inevitavelmente, também devemos ficar de olho no aspecto econômico. Correr em Suzuka para vencer envolve custos desproporcionais, aumentados ainda mais pós-pandemia. Para um compromisso deste tipo, o orçamento a quantificar equivale a uma época inteira no Mundial de Endurance. Sem distribuir publicamente uma “estimativa” a esse respeito: correr nas 8 Horas de Suzuka para vencer custa muito. Muito muito. Em poucas palavras (só o caso para dizê-lo): quem paga?
6 – RISCOS PARA PECCO BAGNAIA
Foi-se o tempo (mesmo que estejamos falando apenas do início dos anos 2000) em que pilotos contratados de 500cc/MotoGP tinham que competir nas 8 Horas de Suzuka. Hoje, ainda mais para uma empresa europeia, não pode e não pode representar o compromisso prioritário em detrimento da classe alta. Dedos cruzados e todos passíveis de serem cruzados, uma corrida”local” como as 8 horas também gera riscos que podem invalidar o programa de MotoGP. Pergunte a Bradley Smith que, em 2016, às 8 horas de Oschersleben, se machucou gravemente durante as primeiras sessões de treinos livres, levando efetivamente vários meses para recuperar 100%.
7 – NÃO SUBESTIME OS PITCHES DAS 8 HORAS
A propósito: nunca subestime o comprometimento, principalmente em Suzuka. Uma antiga lei do motociclismo é que, se você não estiver devidamente preparado, ficará desfigurado em qualquer contexto. As 8 horas não são uma corrida para ser encarada de ânimo leve, mas requerem uma preparação específica, mergulhando numa realidade única no seu género a nível técnico, desportivo, gestão de recursos, etc. Nos últimos cinco anos, vários pilotos de MotoGP (de Miller a Espargaró passando por Morbidelli e Oliveira) competiram em provas do Mundial de Endurance. Alguns se saíram bem, outros não causaram uma boa impressão. Em essência: você pode estar na elite do motociclismo, mas o hachi tai isso é sempre um assunto separado.
8 – CONTEXTO NÃO FAVORÁVEL
Para este hipotético desafio, Pecco Bagnaia com a Ducati nas 8 horas de Suzuka joga contra a história. Os precedentes estão longe de serem favoráveis, mas estamos falando de 31 anos atrás. Uma vida atrás, em suma. Afinal, sim: chegou a hora de reescrever esta história, com um epílogo diferente…