Aviso: esqueça o fato em si, ou seja, o erro de Marc Marquez, o envolvimento dos inocentes Jorge Martin e Miguel Oliveira, as consequências e tudo mais. Dê um passo adiante e concentre-se na questão como se estivéssemos falando de um fato abstrato: um piloto de GP cometeu um erro que o corpo do juiz de primeira instância, ou seja, o FIM Steward Panel, decidiu sancionar com um duplo “longo pênalti de volta” será descontado no próximo GP da Argentina. Marc Márquez machucou a mão e não estará em Termas di Rio Hondo. Então ele vai se safar disso? Isso pode acontecer, porque a reclamação da Honda é procedente. Por três razões diferentes.
O primeiro erro
Obviamente, era para indicar o término preciso da sanção: o GP da Argentina, no próximo domingo. Apenas escreva “no próximo GP em que o piloto participar” e nenhum caso seria montado. Isso é o que acontece em qualquer série esportiva, pense no futebol: o juiz impõe a desclassificação, e se o jogador se machucar, ele desconta na volta. Não importa quando, onde, se com uma equipe diferente. Lá “registro”, por assim dizer, está contaminado até que a penalidade seja cumprida. Após a publicação da decisão, no domingo, 26 de março, às 15h13, hora portuguesa, a Honda ou o próprio Marc Márquez tiveram 60 minutos para apresentar reclamação. Eles não. Já sabiam que não haveria MM93 na Argentina? Pode ser, mas não é relevante.
O segundo erro
Era voltar atrás em uma decisão que já havia sido tomada”final”ainda por cima com uma desculpa ridícula: “a penalidade será cumprida na próxima corrida em que Marc Márquez participar, a fim de respeitar a intenção subjacente do FIM Steward Panel”. Ridículo: uma explicação dessas pode ser boa para um jogo de futebol à noite com os amigos, não tem nada a ver “sério”. O mesmo “tribunal” não pode dizer “Eu estava errado, mas eu quis dizer outra coisa, então agora eu me corrijo“. Que “subjacente“, ou seja, a intenção”abaixo” é o mais ilegal que se pode imaginar. Os juízes devem (devem…) fazer sentenças claras e limpas, sem qualquer “intenção mal compreendida“. O Tribunal de Recurso poderia corrigir a sentença. Mas, na ausência de uma reclamação, não tomou nenhuma providência no momento.
O terceiro erro
Talvez seja o maior: na decisão de urgência, publicada na terça-feira, 28 de março, não há prazo para recurso. Erro gravíssimo, porque o regulamento desportivo, no ponto 3.3.3.2, estabelece que uma segunda instância julgadora, os Comissários de Recurso da FIM, é chamada a decidir sobre os recursos às decisões tomadas pelo Conselho de Comissários da FIM. Daí também a frase “resgatar“, a de terça-feira, 28 de março, deveria ter sido “exigível”. Talvez os comissários pensassem que era o mesmo de antes, mas é lógico que não, visto que a estrutura da sentença mudou completamente, estabelecendo que a penalidade não deve ser descontada na Argentina, mas na primeira corrida útil.
A FIM está saindo em pedaços
Aconteça o que acontecer, Federmoto Internazionale sai dessa história em pedaços. A Honda, na sua nota, escreve que já recorreu para o Comissário de Recurso da FIM, mas resta saber se os Comissários vão aceitá-lo, ou seja, se o podem aceitar, dado que os procedimentos de recurso foram omitidos na decisão do resgate. À primeira vista não podiam, devido aos múltiplos perfis de jurisdição desportiva. A bagunça só vai se resolver se Honda e Marc Márquez jogarem a toalha, ou seja, vão se tornar”Eu deixo ir“, como dizem no Tribunal, aceitando a confusão combinada por toda a cadeia de julgamento do MotoGP. Se, ao contrário, eles lutarem, quem sabe o que pode acontecer. Há também a hipótese de que tudo acaba no TAS, o tribunal desportivo internacional, ou seja, fora do âmbito da Federmoto Internazionale e do “sistema de MotoGP“. Então sim, eles leriam alguns bons…
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Foto: MotoGP.com