Adotando uma terminologia puramente anglo-saxônica, a de Tarran Mackenzie com a equipe Midori Moriwaki na Corrida 2 do Mundial de Supersport at Most é a mais clássica das vitórias para “azarão“. Como um azarão, no papel, ao mesmo tempo o autor de um grande “chateado“, ou seja, subvertendo todos os tipos de previsões. Não poderia ser de outra forma: passando da satisfação com o progresso feito para chegar perto do top-20 (!) à conquista de uma corrida mundial. O resultado de circunstâncias favoráveis, de uma aposta paga, mas com pleno mérito e título. As vitórias de “azarão” eles sempre fazem com que todos concordem e entusiasmam a todos. Porém, com esses sobrenomes tão famosos no motociclismo, soa estranho chamá-los de Tarran Mackenzie e Midori Moriwaki.
A VINGANÇA DE TARRAN MACKENZIE
Pensando em Tarran Mackenzie, neste 2023 todos se fizeram a seguinte pergunta: “mas quem o fez correr no Supersport com a equipe MIE Racing?“. Ainda mais se com uma Honda CBR 600RR longe de ser definida como competitiva e, nas primeiras rodadas, nem homologada. Ele, filho da família (o mais novo entre os filhos pilotos do lendário Niall), há não mais de dois anos se tornou o campeão britânico de Superbike e um dos observadores especiais do circo derivado da série. Por que motivos aceitou voltar ao selim de uma 600, um tipo de moto com a qual não corria desde 2017, ainda mais se não fosse a mais competitiva de todas? Foi uma situação de portas de correr e de visão, este é o seu desejo, de perspectiva.
EXPERIÊNCIA QUEIMADURA EM MOTO2
Nesse sentido, uma premissa é necessária. ‘taz‘, nascido em 1995 e ainda com menos de 30 anos, foi queimado por sua passagem pela Moto2 em 2017. Como atual campeão britânico de Supersport, invicto nas primeiras corridas da mesma temporada e com um contrato McAMS Yamaha para BSB no bolso, ele decidiu aceitar a oferta da Kiefer Racing para substituir Danny Kent no Campeonato do Mundo de Moto2. Com uma Suter pouco competitiva, com promessas não cumpridas, com muito dinheiro desperdiçado à toa. Tendo vivido essa experiência esquecível, Tarran e o pai Niall prometeram um ao outro “Nunca mais!“. A partir desse momento nunca mais tirariam um tostão do bolso para correr ou para serem obrigados a disputar um Mundial sem garantias. Apenas como profissional, apenas com um certo status. Por isso Mackenzie Jr se reconstruiu no BSB, chegando em 2021 para conquistar o título em busca. Na primeira parte da temporada foi dominado pelo companheiro de equipe Jason O’Halloran, mudando de ritmo no momento mais oportuno, ou seja, o Confronto.
FECHADAS AS PORTAS NA YAMAHA
No final de 2021, Mackenzie havia recebido várias ofertas para disputar o Mundial de Superbike, com a condição de desmaiar para correr como corsário. Ciente do que viveu em 2017 na Moto2, possibilidade rejeitada ao remetente, preferindo defender o #1 no BSB e, ao mesmo tempo, com a McAMS Yamaha para disputar três wild cards mundiais com vista a 2023. A bom projeto, naufragado pela raiz em uma temporada de 2022 que se autodenomina azarada é no mínimo. Duas-lesões-duas (tornozelo esquerdo, tornozelo direito…) na pré-época, falhando o wild card em Assen, apresentando-se na seguinte em Donington em condições aproximadas e, uma vez que encontrou a vitória e a melhor forma física em o BSB, a terceira lesão em ordem cronológica. Lutando pelo pódio, caiu em Oulton Park e foi atropelado pelo inocente Peter Hickman. A época terminou prematuramente e, de facto, todas as portas estavam fechadas para uma eventual passagem ao Campeonato do Mundo de Superbike. A oportunidade havia desaparecido com seu amigo Bradley Ray, seu sucessor no registro de ouro do BSB, que o havia ultrapassado nas hierarquias da Yamaha.
MINHA ESCOLHA HONDA
Do ponto de vista do design (quanto à perspetiva) e económico, a oferta mais atractiva apresentada no final de 2022 foi a da Honda e da equipa MIE Racing. Um ano de sofrimento no Supersport, garantias de passagem à Superbike para 2024, acordo direto com a casa-mãe e convocatória para as 8 Horas de Suzuka. Agora ou nunca, o bom Mackenzie aceitou essa proposta com convicção, mantendo uma postura positiva e proativa apesar das adversidades. Aproveitar as oportunidades sempre que possível. Como foi o caso no domingo na Corrida 2 em Most ou, em fevereiro passado, em condições semelhantes em Phillip Island, onde se exibiu ao ultrapassar 3 pilotos de uma só vez fora do Circuito Sul.
MIDORI MORIWAKI EM LÁGRIMAS
Tarran Mackenzie tornou-se assim o vencedor de uma corrida mundial e, ao mesmo tempo, o arquiteto do primeiro sucesso da PETRONAS MIE Racing Honda Team de Midori Moriwaki. Em oração nas etapas finais da Corrida 2, em lágrimas (de alegria) por uma vitória inesperada, capaz de retribuir uma vida dedicada ao motociclismo. Por outro lado, quando você é filha (a terceira) de um monumento como Mamoru Moriwaki e neta de Hideo Yoshimura (seu pai se casou com Namiko, filha mais velha de ‘pop‘), Não poderia ser de outra forma.
INDEPENDENTE
Midori construiu uma reputação na indústria não apenas como “filha de“. Para a empresa familiar (aliás: este ano a Moriwaki Engineering celebra o 50º aniversário da sua fundação) foi a representante europeia para a comercialização da MD250H empenhada em vários troféus e a gloriosa MD600 (primeira Campeã do Mundo de Moto2), estabelecendo-se posteriormente ele mesmo como gerente do retorno da Moriwaki Racing nas 4 e 8 horas de Suzuka. Adquiriu experiência nas pistas de corrida e, entretanto, estabeleceu importantes relações internacionais como membro das Comissões FIM Feminina e de Corridas de Estrada, decidindo no final de 2019 iniciar o seu próprio negócio. Desvinculando-se dos negócios da família, fundou o MIE, sigla para “Midori Engenharia Internacional“, sem qualquer vínculo corporativo com a Engenharia Moriwaki do pai Mamoru. Presencie o fato de que a base operacional hoje é em Sachsenring (depois de um interlúdio em Praga) e não a 1.300 metros em linha reta do circuito de Suzuka. Porém, não exatamente por coincidência, Mie também é a própria prefeitura de Suzuka…
MIDORI VERDE
Se a Moriwaki Engineering ostenta o azul como as cores da empresa (“Para o mar e o céu“) e amarelo (“para a terra“), MIE Racing claramente como a cor predominante levou o… midoriou seja, verde. Passando este ano para as cores do munificente patrocinador titular PETRONAS, duplicando a aposta entre Superbike (onde os resultados são o que são: inexistentes) e Supersport. O midori da MIE Racing é uma esperança verde para um futuro brilhante, tentando realizar o sonho daqueles que não estão mais lá.
DOR JOVEM
Midori Moriwaki merece respeito pelo “missão” de seu projeto. Quando jovem, ela estava emocionalmente ligada a Rei Sawada, um piloto que competiu no All Japan 250 com Daijiro Kato e Shinya Nakano. Na terceira corrida da temporada de 1998 em Tsukuba, em 17 de maio, ele sofreu um acidente dramático quando liderava e acabou em coma após uma grave contusão cerebral sofrida. Ele morreu no hospital 5 meses depois, em 12 de outubro, com apenas 24 anos. Um mês antes do acidente, Rei confidenciou a Midori que, se não fosse se tornar Campeão do Mundo, gostaria de ajudar os jovens pilotos a ter sucesso. Com sua equipe Midori quer dar continuidade a esse propósito.
SEMANA IMPORTANTE EM SUZUKA
Como primeiro marco, Midori Moriwaki conseguiu garantir a Mackenzie sua primeira vitória mundial, em um período que pode representar um novo para ele”porta deslizante“. Pouco depois de subir ao degrau mais alto do pódio no Most, ele e Xavi Vierge pegaram um voo organizado pela Honda para Suzuka. Ele será um reserva de luxo para a equipe HRC nas 8 horas, mas com a lesão de Josh Hook ele pode ser útil para a causa da FCC TSR Honda, a atual equipe campeã mundial do EWC. E não é só: no fim de semana das 8 horas de Suzuka, a matriz apresentará oficialmente a nova CBR 600RR na presença de toda a alta direção. Com Tarran, para ser preciso, presente no local como o vencedor da última corrida do Campeonato Mundial em sua categoria. Quem sabe, em um futuro próximo, ele e Midori Moriwaki não serão mais reconhecidos como efetivos.”azarão“…